A medição de tempo é, possivelmente, a medição mais antiga realizada pela humanidade. Ela sempre foi crucial para a nossa existência, pois nos permitiu saber quando plantar, quando colher, quando migrar, etc.
A percepção do tempo é tão orgânica que a realizamos e percebemos naturalmente. Seja pela sucessão de dias e noites, seja pela mudança das estações, ou ainda pelo movimento dos astros.
A partir dessas observações, os primeiros calendários foram criados, organizando a vida das primeiras sociedades.
Para motivos de plantação e colheita, a tempo era contado de forma macro, compreendendo um intervalo de semanas, ou mesmo meses.
Porém, a divisão mais sistemática do tempo passou a existir com a criação dos relógios solares, ampulhetas e posteriormente com os relógios mecânicos, com os quais foi possível dividir o dia em horas, minutos e segundos, modificando novamente a organização da vida humana.
Sim, mas o tempo existe?
Mas o tempo é algo que existe fisicamente, ou é apenas uma invenção nossa para colocar um pouco de ordem no mundo a nossa volta, existindo apenas em nossa imaginação?
Nossa primeira reação é dizer que ele realmente existe, pois podemos contar, toda a nossa vida existe numa função de dependência do tempo, entre outros argumentos.
Mas nossa compreensão de tempo passou a se tornar confusa graças à Einstein e sua Teoria da Relatividade.
Einstein e a Teoria da Relatividade
Essa teoria nos diz que o tempo passa para todos, mas não na mesma taxa para pessoas em situações diferentes.
Einstein propôs que o tempo não é uma entidade absoluta e independente, mas que existe entrelaçada com o espaço; assim surgiu o conceito de espaço-tempo, onde o tempo faz parte da natureza do Universo.
A partir daí surgiu um grande questionamento, se no espaço podemos nos mover em qualquer direção e sentido, por que não podemos fazer o mesmo com o tempo?
Por que não podemos nos voltar no tempo, enquanto podemos voltar no espaço?
A “culpa” pode ser explicada pela 2ª Lei da Termodinâmica.
Vamos analisar o seguinte cenário: quando colocamos um cubo de açúcar no café, instintivamente esperamos que, com o passar do tempo, ele se dissolva completamente até não ser mais perceptível.
Agora imaginemos o contrário, todo o açúcar que está no café começando a se agregar novamente até virar um cubo.
Neste novo cenário, reconhecemos que parece que o tempo está indo ao contrário uma vez que o açúcar começa a se agregar.
A 2ª Lei da Termodinâmica nos diz que os sistemas, no nosso caso o copo de café com açúcar, tendem a ganhar desordem com o passar do tempo; essa desordem é chamada de entropia.
Entropia do Universo
Vivemos numa realidade em que o açúcar se dissolve no café e não o contrário, e o mesmo princípio se aplica para o restante do Universo.
Tudo tende a ir de um estado de ordem para um estado de desordem, ou seja, a entropia do Universo tende a aumentar e isso é o que define a direção da passagem do tempo.
Teoria de Tudo
Atualmente, temos dois conjuntos de equações que governam os fenômenos físicos, um responsável pelos eventos macro – equação da relatividade – e um responsável pelos eventos micro – as equações quânticas.
Nas últimas décadas, os cientistas têm buscado unir esses dois conjuntos na chamada Teoria de Tudo.
Nenhuma ainda conseguiu este feito. Cada teoria trata o tempo de uma maneira diferente, porém uma delas não inclui o tempo como parte de suas equações – chamada de equações de Wheeler-DeWitt!
Contudo, essa é apenas mais um modelo proposto. Porém, se as equações de Wheeler-DeWitt forem verdadeiras, isso pode significar que o tempo pode ser uma ilusão gerado pelas nossas limitações de perceber o Universo.
O tempo existe ou não existe?
Talvez o tempo não seja uma propriedade fundamental do nosso universo, mas uma propriedade emergente.
O que isso quer dizer?
Que ele não existe individualmente, mas como resultado de um conjunto de interações.
Calma, vamos exemplificar
A molécula de H2O isoladamente deveria ser um gás à temperatura ambiente, pois é uma molécula leve e pequena. Ela possui uma massa molar de 18 g/mol e contém três átomos.
Em comparação, o metano (CH4) tem massa molar de 16 g/mol, cinco átomos e é um gás.
A questão é que devido a sua polaridade, várias moléculas de água juntas se atraem, criando ligações fracas de curtíssima duração – chamadas pontes de hidrogênio – mas que são responsáveis pela coesão das moléculas de água e faz com que ela seja líquida à temperatura ambiente.
Ou seja, a ponte de hidrogênio é propriedade emergente da interação de várias moléculas de água.
Outra forma de observamos isso, é que um filme é formado de vários quadros (frames) de imagens estáticas, que com o movimento do filme nos dão uma ilusão de movimento.
Porém, cada frame ainda é uma imagem parada; o movimento é real, mas também é uma ilusão.
Assim, pode ser que o tempo também seja um tipo de ilusão parecida… mas ainda precisamos de um tempo para descobrir!
Fonte
Adaptado de / adapted from: Does time exist? – Andrew Zimmerman Jones